mofo

mofo is having a massage [ mofo is getting a massage and will return soon ]


Cigarettes and coffee, man, that's a combination.

This film was made over a 17-year period. The Tom Waits and Iggy Pop segment was shot in 1992.

“Em 16 de Fevereiro de 1981, Sophie Calle conseguiu tornar-se criada de quarto por três semanas num hotel de Veneza. Tinha um 4º andar com doze quartos. Para ela a escrita e a fotografia foram instrumentos de precisão que lhe permitiram realizar experiências curiosas em que se empenhou a fundo e com grande seriedade.”
A 10 de Outubro de 1882, um acontecimento na história de Lisboa. Demolia-se o Passeio Público para dar origem à Avenida da Liberdade inaugurada em 1886. Pouco depois, iniciaram-se as obras da Estação do Rossio e em 1889 já se atravessava o túnel para Campolide. Ao lado da estação central construíu-se um edifício, para os administradores, da companhia real dos caminhos de ferro. Em 1892 o uso deste edifício foi adequado a um hotel (à imagem de todas as capitais europeias, onde existia um Palace à saída do principal terminal ferroviário). Tinha ainda uma entrada directa da estação para a recepção quando hospedou a lua de mel do Imperador Hiro Hito.
Desde a autorização para a construção do caminho de ferro do Vale do Vouga, em 1889, até à abertura à exploração pública do troço entre Ribeiradio e Vouzela, na Linha do Vouga, em 1913, passaram 24 anos. Só 20 anos depois, em 1933, se conclui a Avenida do Ribeiro, da Praça Luís Bandeira à Estação de Caminho de Ferro. É este o contexto, no qual emerge a Pensão.
Em 1936, aparece no guia oficial de indústria hoteleira a Pensão Avenida, tendo como única referência a localização em Oliveira de Frades.
Em 1940, no mesmo guia, aparece também pela primeira vez uma referência a outras duas hospedarias, a casa de hóspedes Glória e a hospedaria Ricardo, cada uma com 5 quartos. A Pensão Avenida tinha então nove quartos, o pequeno almoço custava 1$50, o almoço 8$00, o jantar 8$00, a diária mínima 15$00 e a máxima 17$00. Em 1942, os preços mantinham-se iguais aos de 1940.
As letras enfáticas na fachada da Pensão indicavam um mundo em que se podia confiar, dando a ilusão de um cosmopolitismo a quem viajava por estas paragens. Por ali passavam políticos, aristocratas, artistas, padres e exilados da II Guerra Mundial, exemplos de modernidade que encontraram neste edifício um lugar neutro, com um ar distante, que o faz permanecer imperturbável até aos nossos dias.
Hoje, é um daqueles casos em que não se percebe muito bem se é o edifício ou o sítio que confere consistência ao conjunto. A Pensão ocupa a quase totalidade de um talhão onde resta algum espaço para jardim, à frente, e para as couves, atrás. Aqui existe uma fachada estranha e fria, projectada pela tranquilidade da fachada urbana, quase sem autor, suavemente acrescentada e mantida ao longo do século XX. É um exemplo do que resta no mundo cada vez mais normalizado dos estabelecimentos hoteleiros.
No processo camarário apenas consta um diploma no sentido de transformar a casa do Sr. Laranjeira em Pensão, assinado pelo presidente da Câmara, Dr. Arménio Maia, em 1946. Das transformações registadas, apenas uma caiação em 1962 (há anos que a casa não sabe o que é uma demão de tinta), e uma ampliação para a casa do motor em 1976. Ainda assim, as poucas referências encontradas permitem-lhe um encanto, que, mais do que à arquitectura, fica a dever-se ao mistério que envolve os seus actuais proprietários.
As inundações assumem agora aspectos de catástrofe. As torneiras fazem escorrer a água pelo soalho infiltrando-se nas paredes. Os quartos são semelhantes a casernas abandonadas durante uma operação militar, a atmosfera estagnada, a tinta envelhecida, o cheiro a nafta e a humidade consomem o espírito. “Aqui tudo tem claridade suficiente e a deliciosa obscuridade da harmonia. Um odor infinitésimal do mais delicado gosto, a que se mistura uma certa humidade muito ligeira.” Aqui respira-se o mofo da desolação e o isolamento dos quadros de Hopper, através das ruas e bares, teatros e hotéis. Para ele, a cidade, apesar da multidão significa solidão, tema central da sua obra e de Hotel by a Railroad de 1952.
Na pintura, na literatura, no cinema e na vida real, a Pensão é um lugar altamente simbólico de um pequeno mundo, pleno e à parte, no qual nos podemos esconder das realidades mais adversas . A contradição e os excessos de lirismo e de imaginação subsistentes ao neo-romantismo têm, em Hundertwasser, a sua concretização em matéria de sociologia do habitat. O “Manifesto do Bolor contra o Racionalismo na Arquitectura”, datado de 1958, recusa o racionalismo da linha recta e da arquitectura funcional, afirmando a liberdade geral de construir. O texto introduz o bolor aumentado, sujeito à sua lei orgânica de expansão, que deve fazer fermentar as estruturas e rebentar a linha recta das casas. Cada habitante deve cultivar o seu próprio bolor doméstico. A metáfora do bolor torna-se, assim, a imagem parabólica da espiral expansiva do indivíduo.
Foi aqui que residiu, durante a esperança média de vida de um português a linha do vale do Vouga, agora, na sobremodernidade, parte do interesse turístico fugiu por outras avenidas e com ele a recuperação destes modelos de conforto. [FIM]

Bibliografia

HELDER, H. - “Photomaton & Vox”. Assírio e Alvim, 1995.
GRAÇA DIAS, M. – “Pensão Ninho das Águias”. In: JA n195, Março/Abril de 2000.
ALVES COSTA, A. – “Bem diferente de Lino foi Jõao Marcelino Queiroz”. In: JA n195, Março/Abril de 2000.
ESTRIGA, J. – “ Hotel do Facho, Foz do Arelho, 1910”. In: JA n196, Maio/Junho de 2000.
RIBEIRO, I. - “Raul Lino, Pensador Nacionalista de Arquitectura”. FAUP, 1994.
TEOTÓNIO PEREIRA, NUNO – “O Portugal Desaparecido”. In : Tempos, lugares, pessoas. Público.
ANTÓNIO NABAIS, CARLOS RODRIGUES, MANUEL MARTINHO – “Oliveira de Frades”. Câmara Municipal, 1991
MANUEL GUIMARÃES, ANTÓNIO VALDEMAR – ‘Grandes hoteis de portugal’.
BLUM, DANIEL e CLARA AZEVEDO, LUCIA VASCONCELOS –“Splendid Isolation-em busca do mito do grande hotel”. 1999.
JORGE , LÍDIA – “O jardim sem limites”. Planeta Agostinho. 1995.
RENNER, ROLF GÜNTER - “Edward Hopper 1882-1967 Transformações do Real. Taschen. 2003.
RESTANY, PIERRE - “Hundertwasser". Taschen. 2001.

REPORTORIO

17 Quinta. S. Patrício, B. e C.
Quarto crescente às 19 h e 19 m a 17 graus em Gémeos. Carregado com mudança. Continua a sementeira de melões, pepinos e abóboras; em terras quentes, semeia-se milho, linho, grãos, bredos, alfaces, cenouras e todas as pevides azedas; nas terras quentes, plantam-se figueiras. - Em Março espetam-se as rocas e sacham-se as hortas.

[Esta entrevista pode ser lida integralmente em www.jornaldocentro.pt]

O arquitecto paisagista Gonçalo Ribeiro Teles considera que não é muito correcto falar-se de floresta em Portugal. Lafões, se existe enquanto região, parece não funcionar numa filosofia regional. A ADRL vai promover a II Semana Florestal de Lafões, porque acredita que existe realmente uma região de Lafões e que a floresta existe em Portugal?

Para a ADRL existe Lafões sem dúvida nenhuma. É uma região natural perfeitamente delimitada e em cujo desenvolvimento estamos empenhados. Quanto à floresta, não podemos dizer que existe uma verdadeira tradição de cultivo da floresta. A floresta foi surgindo, ao longo destes anos todos, de uma forma mais uma menos espontânea, foi ocupando terrenos que foram ficando marginais relativamente à agricultura, que eram de pastoreio. Foi surgindo de forma bastante desordenada. Não se pode dizer que há uma floresta cultivada, mas há uma mancha florestal muito importante, que é a maior em termos de ocupação de território. Tem importância económica, ambiental, social, e tem vindo a sofrer muito com os incêndios, em boa medida graças ao abandono da agricultura. Havia uma relação muito forte entre o homem e a floresta, que se tem vindo a esbater ao longo dos tempos.

Como é que isso se contraria?

Importa agora inventar outras formas de relação entre o homem e a floresta. É nesse sentido que a ADRL tem vindo a organizar a semana florestal e a procurar desenvolver outros projectos, como um que temos em mente ao nível do aproveitamento dos cogumelos silvestres, com objectivos de lazer e de fins económicos. O projecto está a ser preparado. Outra forma são os trilhos pedestres, que já estão assinalados nos concelhos de Vouzela e em S. Pedro do Sul. Temos vindo a disponibilizar uma equipa técnica para fazer projectos de investimento, temos duas equipas de sapadores a trabalhar na prevenção de incêndios. E, neste momento, temos reclusos da cadeia de S. Pedro do Sul a trabalhar com a nossa equipa de sapadores.

[...]

Atrair pessoas aos espaços verdes não parece difícil, mas como é que se pode estimular os proprietários de terrenos florestais a cuidar do "mato", se isso não representar uma mais-valia?

Temos um problema grande na região, que é a estrutura fundiária e o risco de incêndios que é muito elevado. Com a estrutura fundiária que temos, as pessoas não se vão interessar pela floresta, porque cada uma tem uma série de pequenas parcelas e dispersas umas das outras. É muito caro fazer a manutenção. Por outro lado, com a tradição de incêndios periódicos, as pessoas têm que tirar dinheiro que ganham noutras actividades para investir na floresta e nem toda a gente está disposta a isso. Havia uma outra forma de intervir, que já está a ser aproveitada nalgumas freguesias, mas que é um processo difícil de levar a cabo: projectos de intervenção de forma associada. Um conjunto de proprietários florestais associam-se e fazem um plano global de intervenção nas suas propriedades. Já está um projecto aprovado em Paços de Vilarigues [concelho de Vouzela], com a intervenção da Verde Lafões, associação de produtores florestais da região. Acontece que estes têm sido processos altamente burocráticos, difíceis de conseguir, e não se têm aproveitado. Através desta forma de intervir, há medidas de apoio que chegam a financiar 95 por cento, se a gestão for feita através de uma associação. Isto não tem sido devidamente aproveitado. Por um lado, há um desinteresse por parte dos proprietários florestais, por outro lado, também há um bloqueio provocado pelos serviços da administração, porque não têm tido um papel de facilitar a implementação destas medidas. Em teoria são muito interessantes, apetece dizer que é crime não as aproveitar mas, na prática, há um conjunto de burocracias que acabam por atrapalhar os processos.

[...]

Outra medida para ultrapassar o custo da prevenção é a associação de proprietários florestais?

Uma solução interessante era a intervenção de forma associada de um grupo de proprietários com uma área mínima e a realização de planos de gestão. Essa é uma ideia. Agora, o Estado tem que desburocratizar estes procedimentos, de modo a que as associações florestais, juntamente com os produtores, possam caminhar nesse sentido.

É preocupante o estado das florestas portuguesas, mas o que é certo é que talvez nunca tenham existido tantos apoios, nomeadamente financiamentos comunitários, para a prevenção como agora.

Abundam os apoios dirigidos à floresta no quadro comunitário. Muito dinheiro. O problema que temos na floresta é o problema que temos em todos os sectores. Boa legislação, mas a aplicação no terreno falha sistematicamente. E porque é que falha? Porque as pessoas estão mal informadas? Porque não têm dinheiro para a componente de auto-financiamento? Porque os organismos da administração pública regionais e locais não facilitam o acesso a estas medidas? Porque os organismos centrais da administração também são demasiado exigentes e criam procedimentos tão difíceis que tornam inviáveis as candidaturas? Porque há atrasos de pagamento? É preciso ver o que é que falha. As medidas que temos tido para a floresta, nos últimos anos, têm sido muito boas. O programa AGRO permite financiar até 95 por cento a fundo perdido, nos casos dos projectos agrupados. Quase apetece dizer que devia ser crime as pessoas não aproveitarem esta medida de apoio e pouca gente está a aproveitar. Com a Semana Florestal pretendemos reflectir sobre isto, em conjunto.

Os pequenos proprietários interessam-se pelas medidas que têm à disposição, ou ainda é necessário uma trabalho de sensibilização?

Os pequenos proprietários procuram a ADRL para várias coisas. Mais no âmbito de candidaturas para a agricultura e a partir daí tomam conhecimento de todos os outros trabalhos da associação e procuram os serviços dos sapadores florestais. Temos lista de espera para trabalho de intervenção na floresta.

Então o problema não está nos proprietários, nas interrogações que enumerou atrás. O que é que falha?

A burocracia. O nível de exigência para a apresentação de um projecto é muito grande e as pessoas acabam por desmotivar. O grande esforço devia ser no sentido de estimular o aparecimento de projectos colectivos e aí é que surgem as dificuldades. Também há uma tradição de individualismo por parte dos proprietários.

O que é que as proprietários florestais "ganham" ao gastar dinheiro na limpeza dos seus terrenos? Podem rentabilizar o investimento?

Podem, pela produção de madeira. Dá dinheiro. Se as pessoas mantiverem as florestas limpas, reduzem as possibilidades de incêndio e vão ganhar dinheiro com a madeira, se florestarem, que é o caso do projecto agrupado de Paços de Vilarigues. As pessoas vão florestar agora e daqui a vinte anos vão ter árvores em condições de serem cortadas e de dar bom dinheiro. Neste caso do projecto agrupado, a ideia é ser feita uma gestão em conjunto através da associação, de maneira a poder defender aquela área ao longo destes anos todos, até à idade de corte.

A floresta não é uma realidade que se deva abordar isoladamente. Deve ser relacionada com a agricultura, como disse…

Com a agricultura e com o turismo. A experiência de aproveitamento dos cogumelos silvestres não é nova na Península Ibérica. Em Espanha, há regiões em que estão a explorar os cogumelos do ponto de vista turístico. Um concelho chega a ter mil visitantes por dia. Eles chamam-no mico-turismo. Criaram roteiros micológicos, guias para acompanhar os turistas, trabalharam com os restaurantes no sentido de introduzirem os cogumelos na gastronomia local, trabalharam com as escolas no sentido de introduzirem a micologia como matéria a estudar, fizeram acções de sensibilização da população para ensinar a colher os cogumelos da melhor maneira para preservar os recursos micológicos. É um trabalho à volta da floresta. Tem uma dupla vantagem. Toda a região ganha dinheiro com isto, porque os turistas gastam dinheiro e pagam para colher cogumelos; e a presença do homem na floresta está a evitar os incêndios. E, como se pretende potenciar a produção de cogumelos, a floresta tem que estar limpa.

Arquitectura-Território-Memória [6/7]

A Associação de Desenvolvimento Rural de Lafões (ADRL) vai organizar a segunda edição da Semana Florestal de Lafões, entre os próximos dias 16 e 21 de Março. Oportunidade para discutir com Carmo Bica uma questão constantemente problemática. A floresta e tudo o que lhe está relacionado. A presidente da ADRL diz chegada a hora de pensar os apoios financeiros à prevenção dos incêndios numa perspectiva regionalizada. Cada região receberia um montante tendo em conta as suas características e o risco de incêndio. Urge criar mais equipas de sapadores - é outra das ideias defendidas.

Entrevista e fotografia Fernando Giestas

[...]

Jonny Brau said...

Esta é do arco da velha!...
O teu blog está muito interessante.
Continua...

É para continuar, JB.

REPORTORIO

10 Quinta. S. Macário de Jerusalém.

Lua Nova às 9 h e 10 m a 15 graus em Peixes. Água ou névoa. Concluem-se as sementeiras de trigo da Primavera. Semeiam-se ferrãs e plantas forraginosas de raízes carnudas. Plantam-se batatas e principiam as sementeiras de espargos e morangos. Enxertam-se os álamos de escudo, damasqueiros e pessegueiros. - Março chuvoso, S. João farinhoso.

Jerome K. Jerome

I like work: it fascinates me. I can sit and look at it for hours.

Jerome K. Jerome, "Three Men in a Boat", 1889
British humor writer (1859 - 1927)

Arquitectura-Território-Memória [5/7]

A ADDLAP, Município de S. Pedro do Sul, Município de Oliveira de Frades e Município de Vouzela acolherão nos dias 18 e 19 de Março a reunião transnacional do projecto WATERWAYSNET.
A apresentação do WATERWAYSNET à comunicação social e recepção dos parceiros decorrerá no Balneário Rainha D. Amélia nas Termas de São Pedro do Sul, no dia 18, pelas 9h30.

O projecto nasceu da necessidade de valorizar o ambiente das paisagens características das bacias hidrográficas, desenvolver uma identidade dos vales atlânticos e promover o desenvolvimento sustentável, tendo em conta a rápida deterioração destes frágeis ecossistemas em toda a Europa, devido à poluição, espécies infestantes, inundações, ou deterioração irreversível dos ecossistemas.
O projecto waterswaynet é um projecto internacional financiado pelo Interreg Arco Atlântico em 70%, que envolve outros 7 parceiros Europeus (de França, Espanha, Inglaterra e Irlanda) a desenvolver acções que vão do controlo de infestantes, à recuperação de Azenhas, passando pela reflorestação dos bosques de ribeira e de numerosas acções conducentes à implementação de circuitos de interpretação e de centros de interpretação relacionados com a temática da água. Elaboração de estudos científicos. Um sítio de Internet será desenvolvido em parceria por todos os participantes.

Ainda a proposito do Lugar ( mofo # 01 ) ...

... Vítor Belanciano, em Londres, entrevista Moby para o suplemento Y do Público de Sábado passado:

É sócio de algumas cafeterias e hotéis em Nova Iorque, mas não foi por isso que chamou "Hotel" ao seu álbum.

Não, isso são coisas a que estou ligado apenas para as desfrutar tranquilamente. Não sou grande homem de negócios, longe disso. Os hotéis fascinam-me, tenho com eles uma relação de amor e ódio. Gosto quando se anda em viagem, estamos cansados e chegamos a um hotel exaustos. É fantástico. Toma-se um banho, come-se qualquer coisa, vê-se um pouco de TV. Existe um sentimento de pertença ao mundo. Mas quando se habita num hotel durante algum tempo percebemos também o lado estéril, anónimo, desses espaços. Podemos sentir-nos sozinhos. O hotel é um local vazio que podemos preencher com vida. É como um disco, no sentido em que colocamos o que sentimos nele - coisas calorosas e humanas.

Qual foi o melhor e pior hotel onde já esteve instalado?

O melhor foi o Rivington, em Nova Iorque, onde tirámos as fotografias para o disco. Tem uma vista fabulosa. O pior foi em Londres, há cerca de 15 anos atrás. Não me recordo do nome. Era barato, mas não havia água quente e era uma imundice total. Havia 15 quartos no meu andar e tínhamos que partilhar a mesma casa de banho. Nunca estivera antes num sítio assim e acho que nunca mais voltei a estar.

"Hotel" está disponível a 14.

MERTOLA

Festival do Peixe do Rio no Pomarão.
No concelho de Mértola, este fim-de-semana vai ficar marcado pela realização do I Festival do Peixe do Rio, que vai decorrer no Pomarão. Claro que a cabeça de cartaz do evento é a mostra gastronómica, mas o certame vai englobar também diversas actividades de animação, como uma descida do Guadiana em canoa ou passeios num barco de pesca tradicional, por exemplo. Para quem se preocupa especialmente com a boa mesa, aqui ficam alguns dos petiscos a serem confeccionados de diversas formas, mas sempre à moda local: barbo, enguia, lampreia e muge. Os locais de degustação são a sociedade recreativa e diversas tasquinhas instaladas em vários pontos da localidade, um antigo porto mineiro.

REPORTORIO

3 Quinta. S. Marino, M.
Quarto minguante às 17 h e 36 m a 13 graus em Sagitário. Tempo vário. Não devem conservar-se os vinhos sobre as borras, porque correm o risco de levantar com a chegada dos primeiros calores e inutilizam-se por meio de fermentações prejudiciais. Limpam-se e caiam-se as paredes e os tectos para destruir os parasitas das aves. Extrai-se o grelo da batata. Plantação de cebolo. - Março virado de rabo é pior que o diabo.

GPS

Portugal: o medo de extinguir
Álvaro Domingues* no Público de Terça Feira, ontem.

Como se já não bastasse a fístula do gato, os guinchos do autoclismo, o arrefecimento global e os acidentes na estrada, certo livro que por aí anda não faz nada bem ao colectivo. Temos a sombra branca, o corpo aberto, a inveja e o medo alojados no código genético, o terror a tolher-nos a vesícula, a amnésia, a gripe espanhola, o fantasma da ópera, os salários em atraso, o défice da Segurança Social, o deixa-andar, os mortos esquecidos, o fogo de Santo Antão, a escrófula no pescoço, e o mais que cabe numa mão-cheia de páginas inteirinhas a zurzir a alma pátria perdida algures entre a Cava do Viriato, o Portugal dos Pequenitos, a janela do Convento de Cristo, o cabo de Sagres e as caixas do Multibanco.
Eu, paralisado, embrulhado na consciência de mim feita em gravetos à procura dos traumas primordiais alojados nas mais finas raízes de uma floresta genealógica esquecida. Afonso Henriques não sai da porta da Casa Branca exigindo ser recebido pelo Bush para lhe dizer que os árabes estão em Lisboa e que precisa de reforço militar para libertar a cidade do eixo do mal; Egas Moniz vagueia com a corda ao pescoço na Avenida Castelhana, insistindo que tem de falar com o rei e já não têm conta os internamentos por suspeita de suicídio e ameaça à integridade de Suas Altezas os Reis de Espanha; Diniz não larga os serviços de protecção civil e o corpo de bombeiros, exigindo um plano contra os incêndios para o pinhal de Leiria; Inês morta e depois louca perde-se nas burocracias dos tribunais clamando por Pedro, pela guarda de seus filhos e por vítima de violência doméstica e assassinato; Afonso Domingues recusa-se a sair da sala do capítulo de Santa Maria da Vitória, explicando aos turistas que aquela abóbada nunca cairá e insiste que todos joguem à macaca e batam com os pés no chão para provar que assim é; Luís Vaz sentou-se no colo de Pessoa a beber cafés, a dizer mal da "Mensagem", dos heterónimos, dos heteróclitos, do Saramago, do Lobo Antunes, assediando adolescentes para uns bacanais na Ilha dos Amores; Sebastião vive errante no aeroporto de Casablanca bramindo uma espada partida, teimando que precisa de um passaporte, de um avião e de nevoeiro para regressar e que não quer saber das leis da emigração e do que diz o pessoal da torre de controlo, explicando-lhe que com nevoeiro cerrado os aviões não descolam e que nem sonhe trazer cavalos brancos para a gare das partidas; Pombal, a dormir em cartões na Rotunda do Marquês, ameaça as pessoas com um terramoto que está iminente e obriga-as a assinar uma lista de apoiantes à sua candidatura à Câmara de Lisboa sob pena de serem todos degolados como os Távora; Amélia não quer saber do acidente de Camarate, exigindo a reabertura do processo da rede bombista e o total esclarecimento das condições que levaram ao assassinato d"el rei seu esposo e do JFK; Salazar arruma carros na Avenida da Boavista e quer que lhe paguem em barras de ouro para aumentar os cofres do tesouro, vociferando contra a fuga ao pagamento da licença de porte de isqueiro, contra o Humberto Delgado, contra o Bloco de Esquerda e que manda toda a gente para o Tarrafal e que os polícias são uns tansos; Amália canta, Lúcia morreu e o Eusébio ameaça ir para o Chelsea.
A minha Maria Augusta fechou-se no sótão por causa desses fólios e jura que nunca mais de lá sai nem que tenha que comer ratos e listas telefónicas velhas e fuma obsessivamente rolos de cotão embrulhados em teias de aranha até que lhe chocalhe o cérebro mirrado sempre que move e nega a evidência em que muda se quedou fechada em si. Cai-lhe o cabelo para dentro da cabeça e com isto se entrelaçam, como no ralo da banheira, meadas enguiçadas em novelos que se enredam nas pregas azougadas dos hemisférios ressequidos.
Maria Augusta, tens que sair daí para ir votar! E ela, nada. Maria Augusta anda para a sala ver os debates na televisão! E ela, nada. Maria Augusta anda ver o meu país de marinheiros! E ela, nada. Maria Augusta, eu quero amar, amar, perdidamente! E ela, nada. Maria Augusta, o telemóvel está tocar! E ela, nada. Maria Augusta, anda ver os Morangos com Açúcar. E ela, nada. Maria Augusta, olha o nevoeiro branco! Pé ante pé, como que tomando por epifania cada degrau do sótão, Maria Augusta desce finalmente a escada. Onde? Ali na parede a esguichar do extintor! É neve carbónica, m"ôr, não vês que é neve carbónica? Hã, então é isso e eu que me julgava perdida. Neve carbónica, m"ôr, tanta retórica por causa de um extintor. São Lourenço permita que nunca mais ninguém me ponha a assar a mioleira.
E assim termina a história. O Gil foi ao São Bartolomeu do Mar oferecer uma galinha preta e uma cabecinha de cera e ficou curado. A Maria Augusta e eu habitamos outra vez o mesmo lugar. O gato curou-se da fístula e a andorinha de louça que estava na parede deixou finalmente de tomar os ansiolíticos para o impensável genealógico que lhe tolhia os movimentos.

*Geógrafo, professor da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto

REPORTORIO

1 Terça. S.to Albino, B.
Março, mês consagrado ao deus Marte, pelos Romanos.
Principia a aurora às 5 h e 37 m. Nasce o sol às 7 h e 10 m e põe-se às 18 h e 25 m. São felizes os dias 3, 12, 23 e 27.


  • IGUANA _ uma exposição com mofo
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