mofo

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MOFO “Eu sou uma mentira que diz a verdade” *

«A ideia embrionária de criar este Magazine com o nome MOFO surgiu há uns anos em “conversa de café”».

Eis então que me surge a imagem de que os tempos bem podem retroceder e as gentes do café, por exemplo, o da Brasileira, em Lisboa, emergem sob as figuras de personalidades histórico-literárias tais como Fernando Pessoa, Almada Negreiros, Mário de Sá Carneiro, Sara Afonso, etc., etc. … e isto a título de um exemplo isolado, muitos outros emergirão na memória. Mas já que se comemora 35 anos da morte de Almada Negreiros façamos-lhe justiça e lembremo-nos que “As palavras querem estar no seu lugar”, como o Mestre afirmou.
Neste Magazine as palavras têm efectivamente o seu lugar… as palavras e não só… a história e as suas gentes, a fotografia, a arquitectura; enfim, as artes em todas suas esferas de representatividade… Habemus MOFO!

Para já MOFO é uma constatação, é um projecto real e efectivo, integrado num país, desculpai-me a frontalidade crítica e erroneamente cruel (isto para quem o achar), um país que muitas vezes cheira a MOFO. Mofo é portanto um magazine Outsider (como se intitula) que ironicamente, mas não de maneira alguma, encerra uma intenção/pretensão de representatividade de tudo o que é sensorialmente considerado Mofo. Mofo é, portanto, uma designação contrária, antitética, se assim a quisermos chamar, de forma a suscitar ao leitor uma atitude de interpelação. Mas qual é a espécime de um projecto como o Mofo? Convenientemente recorro às palavras de Jean Cocteau:
“Eu sou uma mentira que diz a verdade” - “ Eu (MOFO, entenda-se) a mentira (designação nominal) que diz a verdade (a verdadeira intenção do magazine)”. E quanto ao nome acho que ficamos esclarecidos.

Por outro lado, surge a questão que se coaduna com a pertinência editorial de uma revista deste género, sobretudo porque sediada numa região do interior, e com isto quero dizer, uma região periférica, pois já Almeida Garrett dizia “Lisboa é Portugal e o resto é paisagem”. A esta interpelação (não despropositada) respondo com outra, a título de provocação? Não se fala tanto em descentralização, como um mecanismo e medida para um maior e efectivo desenvolvimento do país? Pois é: quer queiramos ou não, uma descentralização política não é em nada suficiente… o desenvolvimento e evolução (já que esta é uma palavra politicamente moderna), passam obrigatoriamente (e é bom que tenhamos consciência disso) pela cultura, pelo apoio a iniciativas deste género, pela conservação do nosso património regional / nacional. Segundo este prisma, ainda bem que o MOFO Magazine Outsider radica em Oliveira de Frades e é concebido por cidadãos deste país, mas também por conterrâneos desta terra.

Ora o facto de ser um magazine de Oliveira de Frades, a localização geográfica reflectir-se-á nas temáticas abordadas, mas a elas não me parece que se vá circunscrever. Neste sentido, este número principiou com uma interessante abordagem à Pensão Avenida, património deste concelho (e não só), local que efectivamente pertence quase ao nosso imaginário, dado a história encerrada nestas quatro paredes, dado ao quase misticismo e/ou mística que este espaço carrega e transporta. Estas componentes, quase intrínsecas, encontram-se aqui (no MOFO MAGAZINE) expressivamente retratadas, ou se quisermos ser mais correctos, figuradas. Estou-me, então, a referir à pouco convencional entrevista ao Fernando Laranjeira, actual proprietário da Pensão Avenida, ao concurso Mofo Arquitectura, que se coaduna com uma consciencialização das … e passo a citar: (…) carências ao nível turístico, cultural, comercial, social e de lazer em Oliveira de Frades e o claro desajuste funcional da Rua Dr. Lino dos Santos (...)
Bem claras são estas palavras e bem interessante, nesta perspectiva, é o projecto de reutilização do espaço apresentado.
Mas, há pouco, dizia eu que o tema central desta revista – Pensão Avenida – não se circunscreve à Pensão Avenida. Ele estende-se pelo fantástico universo das Pensões, tal como se explica no artigo intitulado “Literatura lateralmente literal”. O termo Pensão (aí se indica) provém do latim pensione, ou seja, “uma casa para pernoitar uma noite… de passagem ou para a vida toda. Este texto é talvez o corpo mais intertextual de todo o magazine. Aqui, fazem-se pertinentes referências às obras de autores como José Rodrigues Miguéis - Léah e outras histórias-, Vergílio Ferreira, na sua obra Aparição, Al Berto, no Lunário, Dostoyevski, Óscar Wilde, António Rebordão Navarro, Luiz Pacheco, Baudelaire, etc., etc.
De facto, o universo das pensões sempre foi profícuo à criação (literária e não só), sendo, muitas vezes, associado a uma certa e talvez forçada clandestinidade… quem é que se não lembra d’ ARelíquia, de Eça de Queirós, e do local onde o Teodorico se exilou quando foi expulso pela Titi; quem é que se não lembra do local onde Mário de Sá Carneiro se suicidou (sem qualquer sentido de morbidade, entenda-se) … sim: num quarto de uma pensão parisiense.
Indubitavelmente, as Pensões são emblemáticas e bem inspiradoras, talvez pela magia e pela recriação de um novo lar, talvez por serem um local por onde passam muitas pessoas – multifacetadas – e, evidentemente, por serem um local onde subsistem as memórias e se sente o Mofo das histórias.
Por fim, mas não no fim, não descuremos a hilariante fotonovela – Pensão Central – inspirada no livro de Miguel Torga. De facto, curiosa foi a interligação da ficção com a realidade. Desenham-se imagens que todos nós conhecemos; há uma história, que sagazmente nos provoca estranheza, e na qual muitos de nós nos poderemos reconhecer como personagens (agora escolham qual delas vos é mais conveniente!) …

Finalizemos, então, com o artigo científico bem metafórico, no sentido em que a dita definição de Mofo, bafio, bolor (ou seja, cheiro característico da humidade e da ausência de renovação de ar), não se restringe à noção científica, mas estende-se às potencialidades literárias, tendencialmente já patenteada no artigo, aquando se fala de “mentalidades com uma deficiente renovação do ar e com um elevado grau de humidade”- eis que surge o MOFO.
Por outro lado, desvela-se igualmente que muitos dos fungos microscópios poderão ser muito úteis: e nomeemos um exemplo bem conveniente para esta altura, devido às horas - o belo roquefort (entre muitos outros queijos), têm bolor, são consequentemente felizes vítimas do Mofo.
Pois muito bem, não se receie o Mofo, sejamos selectivos com o que consideramos objecto de “Mofo”; arregacemos as mangas e coloquemos as mãos na dita arca que cheira a Mofo e falemos de tudo o que nela se poderá encontrar, de forma a arejar as vidas. Eis o que considero (e desculpai-me a ousadia) o que todas as pessoas que não quiserem ser conotadas como MOFOGRANGRENÁRIAS, um belo desafio… estão lançados os dardos e as farpas!

* este texto escrito pela Teresa Machado fez parte da apresentação do Magazine no dia 21 de Dezembro de 2005 no MMOF.

8 Responses to “MOFO “Eu sou uma mentira que diz a verdade” *”

  1. # Anonymous Anónimo

    Exliquem-me um pouco mais sobre a Mofo. É distribuida como e onde? Este blog é o único sítio onde pudemos ver a Mofo online? Sobre o texto, que julgo ser o editorial, falta a referência ao magnífico "chévre".  

  2. # Anonymous Anónimo

    Não sei em Portugal mais no Brasil este magazine teria que enfrentar sérios trocadilhos com esse nome ;))  

  3. # Anonymous Anónimo

    muito bem.  

  4. # Anonymous Anónimo

    Este texto da autoria da Teresa Machado fez parte da apresentação do magazine a par da leitura um texto do António Rebordão Navaro pelo Graeme Pulleyn.
    Da mesa de café (2001) à edição em papel (2005) passaram 4 anos. Oliveira de Frades foi o lugar comum aos colaboradores deste primeiro número, apesar de alguns, estudarem ou trabalharem noutras grandes áreas metropolitanas (Coimbra, Évora, Lisboa, Porto,...) que não a de Viseu.
    Este blog, abriu em 2004 como uma ferramenta de apoio à edição em papel, revelando-se surpreendente pela sua rapidez e alcance de execução a custo zero. Portanto, e para já, é a unica maneira de acompanhar o desenvolvimento do número 2 deste magazine.
    Onde comprar. Por 3 euros, podemos enviar o magazine por correio, à cobrança. Mais tarde estará à venda em Lisboa pelos nossos dealers Carlos Duran e pelo Marco "Viseu" no Atelier do Chiado.

    Fiquei curioso com os trocadilhos sérios ... hummm !!!  

  5. # Anonymous Anónimo

    Pronuncie a frase:

    "mofo deu esta ou aquela notícia"

    e veja se a curiosidade passa.

    É por isso que aqui revistas e jornais não têm nomes que acabem com a sílaba "fo" :-|  

  6. # Anonymous Anónimo

    Então podem dizer ao Marco, para ter uma revista no atelier, para quando eu lá passar.
    Abraços  

  7. # Anonymous Anónimo

    "Com um garfo destes, também eu assim comia, com um garfo destes diz o Manel p'rá Maria, e não importa o que ela ponha na mesa, com um garfo destes vai cozido á portuguesa".

    Quim Barreiros  

  8. # Anonymous Anónimo

    que tal fonologia... não acaba em fo mas assim principia... e no meio: cacofonia...e no final... amorfo...  

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